quarta-feira, 2 de junho de 2010

Green Nike???


Existe uma imagem que a Nike luta para afastar há anos: a de empresa socialmente irresponsável. As denúncias de uso de trabalho infantil em fornecedores de países pobres grudaram. A Nike fez um grande e reconhecido esforço para contornar a situação, mas a lembrança do escândalo permanece viva. Agora, a Nike, durante anos um símbolo da irresponsabilidade social no mundo corporativo, quer virar o jogo de outra maneira: tornando-se uma referência na questão ambiental. Ou seja, quer estar no time das empresas que estão liderando a corrida rumo à sustentabilidade.

A Nike não carrega a bandeira ambiental desde sua fundação, mas a empresa vem aprendendo há algum tempo. No final dos anos 90, a companhia decidiu abolir o uso de hexafluoreto de enxofre, um gás muito mais danoso que o dióxido de carbono quando o assunto é o aquecimento do planeta. O gás era usado nos tênis com amortecimento a ar. Foram necessários quase dez anos de estudos até que, em 2006, a Nike deixasse de usar o gás por completo. "Não foi nada fácil achar um substituto à altura", disse à EXAME a americana Sarah Severn, diretora de sustentabilidade da empresa. Hoje, essa linha de produtos usa o nitrogênio para amortecimento. Iniciativas como essa, porém, eram esparsas. As atenções dos principais executivos da companhia estavam voltadas para o problema das questões trabalhistas nas fábricas contratadas. Quando a poeira levantada por essa questão baixou, ficou clara a percepção de que a consciência ambiental não estava permeando os negócios de maneira efetiva. São vários os sinais de que esse cenário mudou.

Hoje, todos os tênis Nike têm o impacto ambiental calculado desde a primeira idéia dos designers. Eis o raciocínio: já existe uma grande preocupação com o destino dos calçados no fim de sua vida útil - por que não fazer essa pergunta no começo do ciclo? Em 1995, um par de tênis consumia cerca de 340 gramas de solventes para ser produzido. Atualmente, o uso desses químicos tóxicos, na maioria derivados do petróleo, é de apenas 13,4 gramas por par. A empresa também vem reduzindo o desperdício de materiais e está aumentando o uso de matérias-primas mais verdes na fabricação dos produtos. Em 2004, o algodão orgânico representava apenas 2% do total usado pela empresa. Em 2009, a utilização dessa fibra chegou a 14%. Em termos percentuais, ainda é pouco. No caso da Nike, uma empresa que faturou 19,1 bilhões de dólares no ano passado, essa pequena participação significa um total de 9 600 toneladas.

Por enquanto, ninguém está forçando a empresa a fabricar tênis que tenham zero de impacto no meio ambiente. "Desta vez, ela está sendo proativa", diz Reavis. A Nike também tem se destacado pela veemência com que defende a aprovação de uma política climática. A companhia não só ajudou a criar uma entidade para pressionar os parlamentares - a Business for Innovative Climate and Energy Policy - como, em setembro do ano passado, renunciou à sua vaga no conselho da Câmara de Comércio do país. A medida foi uma retaliação à postura conservadora da câmara para temas ligados ao aquecimento global. Há uma explicação para essa gana da Nike de estar à frente de outras empresas. "Ela estará sempre sob os holofotes", afirma o inglês John Elkington, que cunhou o termo "triple bottom line" - a ideia de que todo negócio deve observar seus impactos sociais, ambientais e econômicos (e não apenas os financeiros). Ironicamente, segundo ele, a chance de que a Nike volte a ter percalços, também é maior. "A empresa está tentando inovar em sua trajetória rumo à sustentabilidade", diz. "E quem inova comete erros, mesmo sem querer."

A Nike tenta inovar no verde, mas acredita que seus clientes não percebem. Mesmo assim, a empresa diz que tenta fazer mais e falar menos. E você leitor? Percebe a imagem da Nike diferente? Já viu alguns de seus produtos verdes?

Fontes:
www.portalexame.com.br
www.businessweek.com/magazine/content/09_25/b4136056155092.htm
www.nike.com

2 comentários:

  1. Sinceramente, nunca vi os produtos verdes da nike. O que sempre me salta a memória é a exploração das crianças mesmo, muito bem ressaltado. Isso é muito complicado de mudar. Ainda existiam argumentos, piores ainda, que falavam que em países nos quais a nike explorava mão de obra barata não tinham nada de empresas e a nike era a salvação. A visão da nike daquele momento em diante nunca mais mudou para mim.

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  2. Rapaz, se a Nike tem produtos totalmente "verdes" não sei, mas sei bem que ela vem tentando substituir produtos à base de solvente que prejudicam a saúde dos operários das fábricas que produzem para ela, por produtos à base de água. E que vem pressionando seus fornecedores para encontrar um destino mais apropriado para os resíduos sólidos provenientes da fabricação de seus produtos. Por iniciativa da empresa americana, em outubro de 2011 acontecerá nas cidades gaúchas de Caxias do Sul e Picada Café o 1º Workshop sobre manufatura sustentável do Brasil e as empresas participantes serão as cinco parceiras da citada companhia no Brasil. Disso eu sei, e considero isso fatos muito positivos a seu respeito, e se a mídia ainda não divulgou isso talvez seja reflexo de uma política de fazer mais e falar menos.

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